Criada em 2022, A Pesca Poética é um trabalho artístico e autoral de escuta, pesquisa e observação da palavra falada. Como uma escutadora e observadora participante, Maria Rocha adentra em percursos coletivos para colher, registrar e anotar (pescar) as falas, expressões e palavras verbalizadas pelas pessoas presentes no grupo durante o ato do encontro. Durante o acompanhamento de escuta, uma pescaria das poéticas da oralidade é realizada pela artista. A Pesca Poética pode acontecer em qualquer percurso, já em andamento ou não, sejam eles oficinas, coletivos, cursos, rodas de conversa, grupos de estudos, palestras, imersões, aulas, laboratórios, entre outros.

Ao fim do encontro, as palavras pescadas, aquelas coletadas e registradas durante o encontro - são reunidas e uma performance com a voz utilizando as palavras pescadas é realizada pela artista. Além disso, é entregue para todos os participantes do encontro um material artístico que reúne todas as palavras/expressões/frases coletadas durante o processo. Dessa forma, usando o acervo de palavras pescadas, um material único e exclusivo é desenvolvido e entregue para cada participante do grupo. O material entregue pode ser tanto um documento remoto (PDF diagramado) ou um material físico - a escolha é realizada pela contratante durante o contrato.

O material entregue, que reúne em um corpo todas as vozes pescadas, tem por objetivo dar corpo ao processo vivido e contar a experiência através das falas registradas. Além disso, ele visa ser um corpo de memórias do processo vivido - um espaço de memória íntima, um corpo para ser revisitado quando necessário, um espaço para busca de referências, lembranças e inspirações em nossas próprias palavras.

"Cultuar o que o verbo, por mais que tente, não fala"- escrevi essa frase em um texto há alguns anos atrás. Me toca - forte - até hoje. Para a Pesca Poética , ouso complementar com o som: "cultuar o que o verbo, corajosamente, fala." Posso dizer, assim, que o objetivo do trabalho é reconhecer e honrar a voz, a palavra falada, os desdobramentos da mesma, os gestos que a acompanham e as subjetividades em torno dela.

Presença, corpo firme, ouvidos abertos, sensíveis e atentos, são particularidades que a metodologia da Pesca Poética exige de mim como escutadora, pesquisadora e pescadora da voz falada.

A Pesca Poética surgiu com a visita a alguns cadernos e rabiscos antigos que usava durante aulas da graduação e cursos livres. Em cada página havia um espaço reservado onde estavam anotadas todas as frases e palavras que escutava e me tocavam. Reuni todo esse material e percebi que essa era uma ação frequente: pescar encantos poéticos de pessoas. Desde 2022, a Pesca Poética já percorreu grupos de teatro, escrita, fotografia, psicólogas, psicanalistas, roteiristas, entre outros.

Honro os espaços coletivos que nos possibilitam alcançar falas potentes e necessárias. Como sempre digo, seguirei com os ouvidos atentos às entrelinhas de cada palavra, gesto, movimento e silêncio, usando-os como fonte criativa e precursora de novos caminhos e possíveis futuros.